quarta-feira, 22 de maio de 2013

Foco

Nunca fui uma pessoa focada. Concentração sempre foi uma árdua tarefa a ser realizada. Enquanto escrevo isso estou pensando na sopa de lentilhas que está no fogo, olhando o gato que está tentando fugir sorrateiramente e, claro, escutando música.
Música: o ponto onde queria chegar (se é que quero ou conseguirei chegar a algum lugar).>
Talvez já tenha te falado sobre minha mania de, quando uma música me agrada, escutá-la repetida e infinitamente por horas, dias e às vezes até meses.
Acho isso interessante esse "fenômeno" de uma canção prender minha atenção por completo a ponto de eu não conseguir desligar o repeat,  indo contra o discurso previamente ensaiado que criei para explicar a mim mesma e fazer os outros acreditarem que me conheço.>
Por que te falo de música e de foco? Porque foi a única - ainda que demasiadamente prolixa- maneira de dizer como me sinto em relação a você. Sim, você que agora lê isso e provavelmente se pergunta "mas que diabos eu tenho a ver com todo esse bla bla bla desconexo?"
Aprendi que é um erro expressar aquilo que se sente, pois, ao contrário do campo do pensar, não inventaram ainda para o sentir qualquer tipo de armadura que nos permita exprimir de maneira segura aquilo que queremos sem correr o risco de ser mal interpretados ou, o que é pior, rechaçados por aquele que ouve.
Pois é...aqui está. Chaves entregues.
Sabe o que dizia sobre foco? Estou aqui falando sobre chaves e portas e ainda não consegui dizer.
Me veio agora na mente daquele filme - Melhor é Impossível - , quando o ator principal, que tinha TOC, ao tentar explicar o que ela significava, diz " você me dá vontade de tomar meus remédios".
Lembra que falávamos - ou melhor, eu divagava - sobre música? Então, você é aquela música que, sem motivo aparente, prendeu minha atenção e roubou todo meu foco.. E quero ouvi-la repetidamente e a cada vez  ter a gostosa sensação de que a escuto pela primeira vez. 
Te peço apenas que, enquanto fizer bem, por favor, não desligue o play.

O caminho


Quis chorar, mas quando se deu conta um tímido sorriso começou a criar forma no canto dos lábios.
 Não era uma  risada eufórica,daquelas que gritam ao mundo a plenos pulmões. Não. Aquele sorriso meio sem jeito que agora era impossível disfarçar e estampava toda sua face,cobrindo as maçãs do rosto, era, ainda que não soubesse, seu coração.
 Como um velho sábio dizendo àquela criança desorientada em sua mente: não há razão pra temer. Você encontrará seu caminho, afinal, seja ele qual for, estarei à frente segurando a lanterna.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O estranho

De tão acostumada que estava a viajar sozinha, não entendeu por que não se afastou quando aquele estranho apareceu e sem dizer uma palavra, pegou suas mãos e se pôs a andar ao seu lado. Antes de conseguir entender o que acontecia, ela se viu abandonando toda a bagagem que carregara até então e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu leveza nos próprios passos. E por estar tão leve, embalada pela recém adquirida sensação de bem-estar, não reparou que o outro trazia consigo uma enorme mochila, carregada com lembranças de viagens passadas, que o fazia parar a todo instante pra recuperar o fôlego. Pensou em perguntar se ele não gostaria de deixar tudo aquilo para trás - assim como ela fizera - mas o medo da resposta fez com que, de súbito, soltasse sua mão. E ele em silêncio consentiu com o olhar, admitindo que aquele peso não o deixaria acompanhá-la e melhor seria, então, cada um seguir sua própria viagem.