sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A inveja

Naquela noite fria, com a cabeça encostada à janela do trem, voltava para casa sozinho. Até aí, nada de anormal, não fosse por um estranho pensamento que o sondava particularmente naquela noite
Ele, assim como aquele trem, todos os dias faziam seu percurso sozinhos e tudo ali era passageiro: pessoas, conversas,sensações; tudo ia embora ao final do dia.
E foi aí que pensou em tudo ao longo da vida que o havia conduzido até aqui. Não até a estação Luz ou Consolação, mas até esse instante em que se perceberia com-ple-ta-men-te ( com longas e solitárias pausas entre sílabas) sozinho.
Foi então que um estranho sentimento lhe sucedeu. Ele teve inveja daquele trem. Porque o trem, todos os dias, sabia que sairia e chegaria sozinho ao seu destino. E ele? Ele às vezes ainda desejava que algum passageiro tivesse ficado.