sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Menina

E você, menina. Você não sabe amar. Porque o amor não escolhe quem vai ser inundado com seu afeto. Amar, menina, é não saber porque se ama e se deixar levar pela correnteza de sentimentos que transborda e escorre pelo corpo, inundando a cama, a casa, a alma. E o coração de quem se ama. E você? Ah, menina. Você escolhe aqueles que julga serem dignos de receber seu afeto. Entregando pequenas porções de sentimento numa bandeja onde deveria estar seu coração inteiro. Você lê livros de romances épicos, chora em filmes de amor e no fim da noite, deita no travesseiro abraçada com seu orgulho. E enquanto não aprender a amar, viverá com os pés presos ao chão. Porque o amor, menina. Ele é livre. E não se pode aprisionar aquele que não sabe viver sem asas.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O lençol

Um lençol bagunçado na cama. É o único consolo daquele que deita sob a falta do outro que se fora. A Lua reflete a pele nua ali deitada. Despida de emoções e entregue à sensação de não ser nada. Sem o outro, nada é além de uma lembrança doce e um gosto amargo de saudade. Melhor dormir e esquecer, meio por querer, a porta destrancada. Pra caso ele resolva aparecer e bagunçar a minha cama, a minha alma e, por que não, o meu lençol.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O frio

Djavan já diria que num dia frio, bom mesmo é ter lugar pra ler um livro. Pra mim, os dias gelados são um convite à introspecção. Mergulho dentro de mim em busca do entendimento que raios de sol num dia de verão ofuscam e não me deixam ver. Mas sei que quando nado, antecipo o encontro inevitável com o nada. O silêncio interior ecoa por todos os lados de um vazio que causa torpor e emudece as vozes das quais esperava respostas. E permaneço assim, sem saber se sou inteiro ou mais um inteiramente só.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A dúvida

E ele, que sempre fora boêmio por natureza, tragando a noite até o último gole de conversa fiada na mesa de algum boteco mal iluminado, agora se via assustado com a sensação de que as doses servidas não mais serviam para apaziguar sua mente cansada de tanto pensar. As unhas roídas e o cabelo mal cuidado eram o reflexo da ansiedade de esperar que alguém o pegasse pela mão e o levasse embora pra um lugar qualquer comum perto do mar e longe da dúvida. Mas como querer mergulhar num oceano se aprendera a vida inteira a caminhar sozinho no deserto? E a solidão, afinal, ainda é a melhor companhia pra quem não quer abrir mão da liberdade de errar.