quinta-feira, 20 de março de 2014

O encontro



Ei você aí parado no balcão, mexendo nas pedras de gelo do copo com um ar distante de quem não percebeu que o uísque já acabou há tempos, evaporando junto com os pensamentos que te fazem sonhar longe daqui. Sabe que eu já estava de saída? Tinha acabado de decidir que não queria mais saber desse negócio de gente. Que a partir de agora ia ficar meio assim na minha, só espiando as pessoas todas inventando jogos pra distrair o medo e adiar a felicidade. Mas quando estava saindo te olhei e me aconteceu uma coisa engraçada. Senti brotar aqui bem pequena uma vontade de ficar. Pra que? Não sei dizer. Talvez pra te pagar uma bebida enquanto você me conta qualquer coisa assim banal sobre você e eu sorrio sem dizer que achei isso a coisa mais legal do mundo. Pra te contar algum episódio desastrado da minha infância só pra te fazer rir e te ouvir dizer, baixinho, que você acha fofo pessoas atrapalhadas como eu. Talvez eu nem queira saber o porquê. Talvez não haja nenhum motivo racional e eu deveria sair por aquela porta, chamar um táxi e ir pra casa. Mas sabe, acho que tanto você quanto eu já entramos com tanta gente em tantos barcos que afundaram, que me deu uma vontade enorme de te chamar pra nadar. Assim sem remo, sem bússola e sem hora pra voltar pra casa. E fazer da noite a nossa história sem início e sem final onde tudo que sabemos é da nossa vontade - ainda tímida e sem jeito - de ficar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário